9 de set. de 2010

21/01/02 ELEGIAS DA ESCURIDÂO - IV PARTE A QUEDA DE UM CAVALEIRO ANDANTE

Riem os demônios, sim, posso ouví-los,
achas mesmo tú, que perderiam eles um momento
como este, onde um verme torna-se consciente
da vileza que tornou o seu ser? Não, não são eles
assim tão tolos, rolam no chão, histéricos os malvados,
cantam e dançam, acompanhando o espetáculo,
e até apostam num final trágico!
A que ponto pode-se chegar neste universo!
Rasteja o homem no próprio excremento, comunga
com o maldito, entrega-se aos vícios,
caem-lhes as asas, que outroras nos confiaram, e alta é
a queda até o mais profundo inferno,
não mais cavalgo ao lado de heróis por verdes campos,
não mais sinto possuído de amor verdadeiro,
caminho agora depois da queda, por pedregoso caminho,
atirado sou ao chão e espinhos aparam-me sorrindo...

... Mas Deus, onde estão seus anjos, por que
fogem eles de mim? Acaso sou tão horrível neste corpo
empesteado, que nem um olhar sequer mereço?
E este punhal, que fazer dele? Cravá-lo ao peito
seria suficiente? Acabaria com este gesto todo meu
sofrimento, ou seria ele apenas o começo?
Dai-me uma cota de malha de aço, uma espada
e um cavalo, deixem-me lutar ao menos
uma vez sozinho?
Que eu perca ou vença, que mal pode resultar-lhe?
Dai-me essa chance, ao menos uma vez dai-me
essa chance?
Pois estou cansado, quero poder cavar meu túmulo,
e nele dormir, não aguento mais viver acorrentado
preso a desejos que desejaria não desejar!
Dai-me por favor o que peço, e nada mais pedirei!...

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