30 de nov. de 2010

24/08/2004 - MIRA!

Sois para mim um mero fantoche
que dança conforme desejas seu manipulador
és um mísero fracassado enganador,
que também enganado, resteja, tal qual um verme torpe!

Nasa acrescentas por onde quer que passes
és tão insignificante que nem aos cães alarmos
capenga, moribundo por inóspitas estradas
e somente a Morte vejo que a ti um dia se abrace

És o resultado dum Amor infecundo
resto do Medo e do òdio do Mundo
És o bastardo atirado aos Ventos

És carne, Sangue e Sofrimento
esquecido tu fostes no Mundo em que vivemos
esquecido partiras para o Mundo do esquecimento...
Cospe-me oh! boca virulenta,
contamina-me com sua mais vil maledicência,
e arrasta meu nome na lama que te acompanha,
assassino meu caráter com suas torpes palavras,
e atira-me ao fundo de um calabouço,
estraçalho meu ego como se fosse a um corpo
acusa-me, ofenda-me e castiga-me...

Cospe-me oh! boca maldita
derrama sobre mim toda sua ira
amaldiçoa aquele que outrora a dominava,
e fustiga a este que agora escravizas
Cospe-me oh! boca insana
com suas ácidas palavras, difama-me
corroa minha memória, apagas minhas lembranças
atira-me ao esquecimento e faça-me ressurgir como um louco;
arrasta-me infeliz para a morte deste corpo
e contemplas suas proezas ávidas por mais.

mastiga-me oh! boca infernal
engole-me a seco como se fosse um mísero farnel
sinta-me amargo, ocre como o féu
expele-me oh! boca insatisfeita
expele-me...

01/04/2004 - DOIS FRAGMENTOS NOTURNOS

Confesso que fui inútil
coisas que penso não valem
acordo às cinco e escarro,
mas sem meu vômito não me satisfaço

Paixão é dor, tesão ansiedade
amor é ódio, desejo libertinagem
se durmo bem, acordo mal,
se sonho com anjos, são os demônios
que me embalaram

28/01/2004 - ETERNO PRISIONEIRO

Ainda que ouvesse em mim
algum vestígio de amor, negar-me-ia
a vida, algo que eu ousasse amar...
transformaria meu amor em desejo doentio,
e privar-me-ia de pode-lo realizar!

Seria apenas mais um de seus fantoches,
dançando conforme sua vontade,
seria o bobo da corte, que alegraria suas noites,
e desprezado num canto qualquer
amargaria dia após dia...

Oh! Vida embusteira, acaso não haverás
outro, a quem possas privar alegrias?
Serei eu, seu eterno prisioneiro
ou haverás de me dar liberdade só no último momento?

Conceda-me ao menos uns míseros anos,
anos esses que caminharei sozinho,
Não seja agoista, nem vingativa,
dê-me apenas o que desejo,
e serei teu servo, pro resto da vida!
Por isso rogo-lhe: Oh! embusteira vida...

19/01/2004 - IGNORAS

Condena-se a Eternidade nesta terra miserável,
quem confunde-se com o ego, o corpo e a matéria volátil,
prende-se a sonhos nunca realizados,
e arrasta-se sedento, por um túnel vazio e escuro!

Rejeita a verdade, apoia-se em mentiras,
cospe no prato que come e na boca que o beija!
Enverga-se como réles capim a mais
suave brisa, e acha-se apto a
desafiar tempestades!

Engana-se e engana,
ilude-se e ilude
é imperfeito e não vê a imperfeição
É imortal, mas teme a imortalidade,
esse é o homem que diz-se perfeito
mas acaba-se na escuridão!

A MENTE

Deus acusa-me, prontamente
Nega-me, Deus, algo que me complemente
Ajuda-me, peço-Lhe verdadeiramente
Mas acabe-se inultimente

SÓ EU VIA TUDO NEGRO!!!

Bitucas no cinzeiro,
duas tampinhas de coca-cola
duas caixas de fósforos meio vazias
duas garrafas de cerveja
um copo...
e várias goiabas
Só eu via tudo negro!!!

Nada vinha-me a mente,
tristeza, solidão, ausência,
talvez a morte seja a essência
que numa noite ausente
sentia somente a falta de amor
o amor que se sente quando ama-se realmente
Mas, só eu via tudo negro...

18/05/2003 - A GUERRA E O GUETO

A guerra nos guetos proliferam-se
desde as recônditas guerras fatídicas,
arrastado-se por essa nossa guerra moderna.
Despresam-se agora os guetos poloneses
os guetos negros e porto-riquenhos
e ferroam com mais força agora
as favelas e guetos brasileiros...
amordaçado e vendado, surdo e acovardado
jaz a prole desesperada, vítima de
violência gratuita, transformando cidades
magníficas, em Bósnias e Eslovênias tupiniquins...
Cede o honesto, mata-se o justo,
Fere-se o progresso e a ordem tomba junto...
Regressa o homem do espaço.
conquista o homem o fim do mundo,
Ilumina a terra com urânio e chumbo
Mais acovarda-se perante o injusto
Toque de recolher que desce os morros
em forma de pó, em gritos mudos,
em ecos surdos sem nada pensar em fazer...

29/04/2003 - PEDIDOS DESESPERADOS

Correis, correis aves de rapina...
correis... pois asas já não as têm
e o vôo de fuga, fostes de vós rapinadas,
restam apenas suas pernas fragilizadas,
então correis, correis, pois de predador
presa tornastes, de matador nada vos restastes...

Chorais, chorais, órfãos das noites
Chorais... pois consolo já não os satisfaz
e os beijos amigos, fostes para vós cuspe fétido
restos e dejetos de uma vida abjeta
então chorais e espantai vossos fantasmas
pois nada mais vos feres, nem a cruz ou espada...

Dê-me, dê-me, sua alma conturbada,
Dê-me... pois a minha há muito está silenciada,
presa num quarto escuro, sem paredes, janelas ou porta

Sem encantos, formas, nem chão
a prisão a mim destinada, o cárcere
negro do meu coração...

Correis... correis...
Chorai... chorai...

08/04/2003 - CORVO I

O corvo, símbolo funesto do coroastrismo,
que do homem na morte devora o corpo
e carrega tu'alma para um abismo,
sobrevoa minha carcaça ainda viva,
que apodrece dia após dia vítima da infâmia
de pobres seres que semeam suas proles
neste vasto buraco, que chamamos universo

Ave agourenta, da Morte mensageira
Faz papel de Hermes, pois leva deliciosa
mensagem aos imundos e podres vermes
a promessa de macabra festa,
uma festança, tendo como convidado especial
os meus restos carnais,
que nada têm de mortais,
que hão de perder-se
na insignificância

12/11/2002 - SEM ESPERANÇAS

Sem esperanças avanço passo a passo,
rumo ao martírio no cadafalso,
riem-se de mim os gentios,
xingam-me, cospem-me, atiram-me seus lixos

Sou para eles apenas um espetáculo,
um marionetes que dançará pelos ares,
um balet macabro e temerários,
os últimos passos para a morte

Por dentro choro, mas não de medo
choro por saber que mais tarde ou mais cedo
muitos outros meus passos hão de refazer

Não rezo por suas almas, pois também eles
por mim não rezam, apenas desejo que sejam
mais afortunados, e que o carrasco ao invés dum
laço, neles usem um pesado machado...

10/04/2002

  
Ao terminar o poeta seu lamento
Fez-se no recinto um estranho silêncio
paralizadas em seus cantos,
alguns presentes sorriam, outros choravam,
mas nem uma palma se ouvia.
Parecia que um anjo lhes revelara suas vidas
e o medo de se ver retratado numa poesia
invadira suas almas, e os transportara
num passado que o tempo não lhos acenava

05/04/2002 - RETRATAÇÃO

Não tenho a pretensão de agradar
a ninguém com meus escritos
e possivelmente nem uma lágrima rolará
após muitos os terem lidos

Será para mim de extrema satisfação
se por acaso desperte um amargo sorriso
no seu íntimo adormecido
no seu Fechado coração...

Pois o que escrevo são meus sonhos
e não os chamo para sonhar comigo
escrevo por direito e dever

Por prazer traduzo meus sentimentos
satisfaz meu ego, meus pesares, meus lamentos,
não iludo-os com que penso
predisponho-me apenas a vos transmitir
uma parte de tudo que vejo

09/04/2002 - LIBERTAD

Zeus caricato que te arrogas o direito,
de dispor dos destinos alheios?
Sabendo-se que só anseia a Luz
aquele que contorce-se em trevas

Lança teus raios, majestoso Deus,
mas reservai a nós escravos seus,
o direito a seguir nossos destinos
sem se indispor com os desígnios celestes

Abre-te como abre-se o Céu para o Sol
e deixa-nos palmilhar nossos caminhos
deite-se sobre as nuvens que empapussam os Céus

Mas lembre-se, que nem todos somos normais
a uns é vedada a Luz, a outros cega-os seus raios
mas eu ignoro tua vontade, e faça-me cair
no livre arbítrio para ti arbitrário

01/03/2002 - COLEIRINHA

Ouço, agora ele canta disparado
mas é sempre o mesmo refrão
não sei se de tristeza ou alegria
de ódio ou amor, ou simplesmente para
afastar a solidão

Talvez seja porque neste mundo louco
onde homens loucos encarceram outros
seja esse pássaro um dos poucos
que pelo homem sente compaixão